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Encontro Estadual de Coco colocou o público para dançar

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Jan Ribeiro

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Apesar do clima instável, o público compareceu e participou intensamente do evento

Por Camila Estephania

Entre os dias 6 e 8 de abril, o Encontro Estadual de Coco, organizado pelo Governo do Estado, através da Fundarpe/Secult-PE, reuniu cerca de 30 grupos desse segmento da Cultura Popular no palco montado na Torre Malakoff.  Durante todo o fim de semana, as atividades começaram à tarde e foram até o fim de noite, sempre contando com a participação intensa do público, que não se intimidou nem mesmo com a forte chuva que caiu no primeiro dia de apresentações. Por conta do céu instável, algumas das atrações da sexta-feiras foram remanejadas para os dias seguintes, que começaram horas mais cedo do que havia sido planejado inicialmente, para garantir que todos os convidados desta edição subissem ao palco.

Entre os espectadores que marcaram presença na abertura estava a estudante Giovana Alves, de 18 anos, que acompanha o cenário do Coco em Pernambuco desde os 16 anos de idade. “Tem muita gente que ainda tem uma visão estigmatizada sobre isso, porque não conhece essa cultura, mas acho que qualquer pessoa que se aproxima do Coco se apaixona”, comentou ela, na ocasião, ao defender o evento como uma importante vitrine para quebrar os preconceitos sobre o ritmo.

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Forte chuva do primeiro dia de apresentações não desanimou a plateia

Com a proposta de não repetir atrações em edições seguidas do Encontro, o evento se tornou também um espaço para revelar novos nomes que renovam o estilo e dão continuidade ao trabalho de mestres veteranos. “Essa iniciativa é muito importante, principalmente para a gente, que é um grupo novo formado a partir da Jurema. Quando a gente é convidado para um evento como esse, é uma oportunidade de mostrar mais a nossa cultura e trazer a história do terreiro para a rua. Isso é enriquecedor”, observou o Pai Antônio de Xangô, do Coco Vermelho, que há quatro anos comanda o grupo como uma expressão do lado profano dos cultos de matriz africana da comunidade de Cajueiro Seco.

Com origem nas culturas negra e indígena, o Coco teve todas as suas variações representadas no palco da Torre Malakoff. De Águas Belas, membros da Tribo Fulni-ô levaram a Banda Cultural Indígena Fethá para tocar um Coco sob o comando do pífano do Mestre Índio Matinho. “A Cultura Popular é a primeira cultura brasileira, porque ela tem influência dos nativos, por isso, é muito bonito ver isso sendo valorizado por uma iniciativa como essa”, disse ele, depois de sua apresentação na sexta-feira.

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Adiel Luna foi uma das atrações do sábado

O público também pode aprender mais sobre os diferentes tipos de Coco existentes através dos grupos que se apresentaram. “Aprendi o Coco dançando em Brasília, mas aqui o Coco é bem diferente. Quando você vê um Coco da periferia daqui mesmo, é outra coisa, você vê que a galera é realmente nascida no Coco. Chegando aqui, percebi que muitas pessoas, mesmo de Pernambuco, não conhecem o Coco, então esse espaço é importante para movimentar esses tocadores e não deixar morrer a cultura daqui”, disse a brasiliense Paloma Menino, de 25 anos, que está no Estado há cinco meses estudando danças populares.

Entre os grupos que fazem do Coco uma ferramenta social para trazer benefícios para a comunidade, está o Coco de Roda Raio de Luz, que contou com várias crianças durante a sua participação no domingo. “Um de nossos propósitos é resgatar os jovens da nossa cidade, que tem um índice de violência muito alto e nossas ações contribuem muito para afastá-los da criminalidade”, disse Gabriela Luz, de 16 anos, que é uma das integrantes do grupo, ao explicar a atenção especial com as novas gerações de Açude de Pedra, que fica em Lagoa de Itaenga.

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O evento mostrou, através de grupos como o Coco Vermelho, que a cultura popular é para todos.

Além da proposta de ocupar os jovens das periferias e subúrbios com atividades culturais, os Cocos também são uma tradição de família que tem o objetivo de perpetuar a sua ancestralidade no repasse de informação para os mais novos. “Nosso grupo é composto por mães, irmãs, filhos, netos. A gente dá continuidade ao legado da minha mãe Iracema e estamos mostrando que Coco é resistência, é família, é povão e é rua. É para homem, criança e mulher”, comentou Bethânia Axé, do grupo Batuque das Morenas, que foi criado há mais de 20 anos.

Entre os nomes mais veteranos, também estavam Cila de Coco e Glorinha do Coco, essa última participando do Coco de Amaro Branco. “Para mim é um prazer participar disso com outros coquistas”, disse Glorinha, que teve sua opinião reforçada por Cila: “é muito gratificante”. Considerada referências no ritmo, as duas foram parte da programação do domingo, que também contou com o Coco de Dona Del. “Essa mistura é importante para a carreira dos coquistas, porque ficamos mais conhecidos do público”, apontou ela, ao explicar que o formato do Encontro trouxe uma plateia diversa.

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A Torre Malakoff sediou o Encontro Estadual de Coco neste ano

Entre os espectadores das apresentações, também esteve o cantor e compositor Barro, que foi surpreendido pelo evento enquanto passeava pelo Recife Antigo. “A matriz do som que eu faço é muito disso e é massa essa iniciativa, porque a gente tem uma base ancestral de um manancial de cultura muito poderoso, ao qual temos pouco acesso. Que tenha muito mais disso, para mim é um alimento para fazer música”, torceu ele, que acredita que o ritmo independe dos ciclos festivos e deve ter espaço o ano inteiro.

Gestora da Torre Malakoff, Conceição Santos também comemorou a realização do evento no ambiente. “Este é um equipamento cultural que consagra múltiplas linguagens artísticas, ações e públicos. Por essa vocação, a realização desse encontro de coco aqui reafirma nosso compromisso com a cultura popular e abre espaço para que novas pessoas circulem na nossa casa e conheçam nossas atividades”, avaliou ela.

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Vários tipos de Coco tiveram espaço na programação do Encontro


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